quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Lance Armstrong. Adeus, ciclista.Bem-vindo, homem de negócios.

Aos 39 anos, o heptacampeão do Tour prepara-se para a sua última prova. O futuro vai ser longe da bicicleta, mas sempre perto do ciclismo.
A vida de Lance Armstrong daria um filme. Dramático, pela luta contra o cancer, e de ação, pelas conquistas no ciclismo - sobretudo no Tour. Mas se desse mesmo seria um filme biográfico, porque este homem tem história para centenas de páginas de argumento e quilómetros de fita. O texano, que este ano passa a quarentão, está quase a guardar a bicicleta - de vez. Antes ainda vai correr o Tour Down Under, na Austrália, só para a despedida. Depois disso, o ciclista vai dar lugar ao homem de negócios - de vez. E não espera boas-vindas de ninguém.

Armstrong já anda  trabalhando nisso há algum tempo e não deixa nada ao acaso. A começar pela forma como gere a reta final da sua carreira. A participação na prova australiana Tour Down Under vai render-lhe, pelo menos, 2 milhões de dólares (1,5 milhões de euros). É fácil argumentar que é demasiado dinheiro para um só ciclista. Ainda assim, o investimento vale a pena: no ano passado, a presença de Lance na Austrália levou à injeção de 41,5 milhões de dólares (31,2 milhões de euros) na economia australiana. Este ano, o lucro pode ser ainda maior.

Na verdade, há muito que Lance Armstrong é especialista em multiplicar cifrões. Entre 2001 e 2004, no auge na carreira, a US Postal gastou 31,9 milhões de dólares (24 milhões de euros) para patrocinar o ciclista e a equipe. Surpresa das surpresas - ou talvez não -, a empresa recebeu mais do triplo (103,6 milhões de dólares, cerca de 78 milhões de euros) graças às conquistas do norte-americano. Nesses quatro anos Lance ganhou sempre o Tour, tal como tinha acontecido nos dois anteriores e viria a acontecer em 2005.

POLEMICA: As sete vitórias na Volta a França fizeram dele um símbolo do ciclismo, por vezes maior do que o próprio esporte, cada vez mais ferido pelos sucessivos casos de doping. E Armstrong tornou-se, ele próprio, um alvo fácil. Numa era em que vitórias e drogas surgem muitas vezes lado a lado, não falta quem procure uma forma de provar que o herói não passa de um impostor.

Em Maio do ano passado, Floyd Landis - colega de Armstrong na US Postal - disse que o texano se dopou em 2002 e 2003. E acrescentou que Johan Bruyneel, diretor da equipe nessa altura, tinha subornado Hein Verbruggen, então presidente da União Ciclista Internacional, para manter o silêncio. Só que Landis - que ficou sem a vitória no Tour de 2006 depois de uma análise ao sangue positiva - não tinha provas para sustentar a acusação. Ainda assim, foi lançada uma investigação federal, que até agora não confirmou nenhuma das alegações.

PUBLICIDADE: Um estudo da agência Ace Metrix chegou à conclusão de que Lance Armstrong é uma das personalidades menos eficazes no que diz respeito a mensagens publicitárias - à frente do ciclista ficou apenas Tiger Woods. Mas o heptacampeão do Tour - cujo futuro pode até passar pela compra dos direitos da prova - nem tem grandes motivos para se preocupar. O seu lugar na história do ciclismo está garantido; o futuro também. E que venha daí esse filme.

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